28 setembro, 2010

Oficinas de Verão


Nada melhor que o tempo seco e quente para se efectuar um seminário de modelagem de pasta de porcelana. Porém e antes dos detalhes da execução, vamos recuar bem no tempo e identificar sucintamente aquilo que já foi considerado o “ouro branco” do Oriente – a porcelana.

Foi na China, durante a dinastia Han entre o ano 206 a.C. e 220 d.C., que a pasta da porcelana teve a sua origem. Composta por uma mistura de caulino (40%), feldspato (25 %), quartzo (25%) e argila (10%), caracterizava-se pela sua brancura, transparência e dureza.

Etimologicamente, a palavra porcelana deriva de "porcillus" nome de um crustáceo do Mediterrâneo  cujo brilho e transparência os europeus dos séculos XVI e XVII associaram às peças de porcelana trazidas para o continente europeu através da Companhia das Índias, Portuguesas, Holandesas e Inglesas.

Foi pela mão de Marco Pólo,  perto do final do século XIII e numa das suas expedições que pela primeira vez trouxe para a Europa algumas peças do “ouro branco”, como era então designada a porcelana, tornando-se rapidamente num artigo de luxo imprescindível para abrilhantar as mesas mais requintadas da soberania.

Aproveitando o bom tempo deste Verão, fizemos um seminário básico de modelação da pasta com vista a criar jóias de adorno, pelo processo a seguir documentado :


1. Amassar a pasta  até se tornar bem elástica e maleável.

2. Estender com o rolo de madeira, tendo o cuidado de a deixar com a mesma espessura em toda a sua extensão e sem bolhas de ar.


3. Segue-se o corte das peças/modelos.
Podemos utilizar formas de corte ou um cartão previamente desenhado com o modelo pretendido. Pode-se ainda imprimir texturas na pasta com os mais diversos materiais (rendas, redes, plásticos, materiais texturados, etc…).

4. Colocam-se as nini-porcelanas em cima de uma placa de gesso, a qual irá absorver a humidade contida nas peças e deixamo-las secar por cerca de meia hora. Em seguida com uma pequena esponja húmida e peça por peça, vamos alisar as arestas e todas as imperfeições resultantes do corte.

5. Depois de bem secas (48 horas) sofrem a primeira queima, denominada biscoito, a uma temperatura de 900º C, cujo objectivo é dar às peças resistência e porosidade necessária para a perfeita absorção do vidrado. Nesta etapa as peças têm um tom branco baço similar ao gesso.

6. Através de um processo manual de imersão e/ou vaporização (usando um compressor), o vidrado adere à superfície da peça, formando uma película de cobertura.
7. Após a aplicação do vidrado ocorre uma segunda queima, controlada (por step's) e realizada a uma temperatura que varia entre os 1280º C e 1400º C (dependendo da especificação da pasta de porcelana).


8. Nesta fase a pasta torna-se completamente compacta, sem qualquer porosidade e perfeitamente vitrificada, adquirindo uma cor branca translúcida. Em todo este processo, reduz cerca de 30 %  da peça inicial.






9. Chegamos assim à última etapa,  a da decoração. As opções são infindáveis, na razão proporcional da criatividade do artista.

10. Nestas jóias, usei apenas ouro e prata, mas poderia ter usado lustres ou ainda as tintas de porcelana. Finalizei a decoração com uma aplicação de pérolas coladas.

E "voilá " ...... Peças únicas, lindas e personalizadas.


Estão abertas inscrições, para seminários (no atelier da Maia  ou noutro  a combinar) . Todos os interessados poderão contactar-me através do e-mail: noemia.travassos@gmail.com e obter todas as informações adicionais.


06 setembro, 2010

A Poesia das Moléculas

" Watson e Crick, quando imaginavam a arquitectura do ADN, foram guiados também por princípios estéticos. Como se uma voz lhes murmurasse: “A dupla hélice está certa porque é bonita.” Sei que estou simplificando. Mas as moléculas sabem mais de poesia do que nós podemos imaginar. E as conchas fósseis que há 1200 anos comoveram o chinês Zhu Xi eram ciência escrita em versos.


 Trabalho de Fernanda Amândio -Jarra (lado A) - 33 x 21 cm


O poeta apenas reconheceu o casamento entre beleza e verdade. Afinal, a ciência e a arte são como margens de um mesmo rio.
 A Biologia não é diurna nem nocturna se não se assumir como autora de uma espantosa narração que é o relato da Evolução da Vida.
Podem ter a certeza de que a História da Evolução é tão extraordinária que só pode ser escrita juntando o rigor da Ciência ao fulgor da arte.  

Jarra (lado B) - 33 x 21 cm

A fechar, quero dizer o seguinte: poesia e ciência são entidades que não se podem confundir, mas podem e devem deitar-se na mesma cama. E quando o fizerem espero bem que dispam as velhas camisas de dormir.

Autor do Texto: Mia Couto  in InterInvenções